Num domingo de chuva,
escondido do sol,
um homem compra o jornal.
Cada artigo que lê soma-lhe uma lágrima.
E cora ao ler os classificados.
Oh, Silvia,
os teus livros ainda
se apertam na minha estante,
tão vazia quando
partires de vez.
E as pedras da calçada,
a caminho do café,
saltam de um lado para o outro,
confundindo os passos,
como se achassem errado
o calcar dos sapatos.
Não há aniversários às janelas,
apenas um casamento
que corre as estradas, frio
como o apitar
de uma bossanova,
sem sentido.
E o que faz sentido?
As putas madrugadoras,
os casais adolescentes, nojentos
no agarrar, no apalpar,
as mãe solteiras e os sacos de compras,
a merda dos passeios caninos
a boiar nas poças de água.
Oh, Silvia,
os lagos que te ofereci,
esgotaram a vida
no evaporar do nosso amor.
E nada mais se levantou - só eu.