Bem, isto é de uma espécie de mini-livro que escrevi. Não procura ser bem escrito nem artístico. Apenas ter princípio, meio e fim (coisa que nunca teve nada que eu escrevesse, daí só curtir escrever pequenos poemas. Não tenho paciência para cenas grandes) .

Se vos apetecer, leiam (se ao menos uma pessoa ler, eu amanhã meto uma foto da Scarlett Johanson do Lost In Translation lol) .

Primeiro capítulo de cinco.

Acordei cheio de sono. Senti-me petrificar. Não conseguia abrir os olhos. A minha mente convencera-se de que não tinha qualquer controlo sobre os músculos do corpo. Ouvia o meu respirar como se esse acto mecânico não me pertence-se. Não o reconhecia no meu pensamento. Era como um elemento estranho ao meu “eu” interior.
Ganhei coragem. Afinal só me faltava mais um dia; apenas mais um acordar.
O relógio estava atrasado; ainda não tinha despertado. Esperei ansioso, já com a mão direita preparada para calar o aparelho. Divagava sobre o tempo. A falta de tempo; o excesso de tempo: o tempo nunca é aquele que queremos.
Apitou. Coloquei a mão sobre ele e desliguei-o.
Ergui-me com preguiça e deixei-me ficar sentado na cama por uns segundos. Devia fazer a cama? Para quê, se não voltaria a deitar-me nela.
Fui tomar um duche. Gosto de água morna, mas por uma vez, quis sentir o calor de uma chuva de fogo: escaldante e furiosa. Quero lavar todas as impurezas do meu corpo. Purificando o corpo quero purificar a alma. Agora estranho como essa relação nunca me importou.
Fiquei cerca de vinte minutos de baixo do chuveiro, com a mão apenas na torneira vermelha. Imaginava-o como um vulcão invertido, decidido a desfazer-me em cinzas. Sim, em cinzas puras, prontas para se enfiarem num qualquer pote designado para as guardar para toda a eternidade.
A lava queimava-me a pele. Parecia querer entranhar-se no meu corpo, que se via indefeso perante a sua fúria. Só quando a senti vencê-lo girei a torneira, estanquei o vulcão e saí da casa-de-banho.
O meu corpo soltava gritos de dor ao mais suave deslizar da roupa. Estava queimado e vermelho, como quando se apanha um daqueles irritantes escaldões de Verão.
Fiz a barba; lavei os dentes; peguei aleatoriamente num caderno e no telemóvel; e saí. A chave? Enfiei-a por baixo do tapete da entrada. Quando todos souberem vão querer entrar e, desta forma, pode ser que se evite a chamada dos bombeiros para arrombar a borta. Pensado melhor, deixei-a encostada.