Para mais: Plz, dont break my stereo
|
Num domingo de chuva,
escondido do sol,
um homem compra o jornal.
Cada artigo que lê soma-lhe uma lágrima.
E cora ao ler os classificados.
Oh, Silvia,
os teus livros ainda
se apertam na minha estante,
tão vazia quando
partires de vez.
E as pedras da calçada,
a caminho do café,
saltam de um lado para o outro,
confundindo os passos,
como se achassem errado
o calcar dos sapatos.
Não há aniversários às janelas,
apenas um casamento
que corre as estradas, frio
como o apitar
de uma bossanova,
sem sentido.
E o que faz sentido?
As putas madrugadoras,
os casais adolescentes, nojentos
no agarrar, no apalpar,
as mãe solteiras e os sacos de compras,
a merda dos passeios caninos
a boiar nas poças de água.
Oh, Silvia,
os lagos que te ofereci,
esgotaram a vida
no evaporar do nosso amor.
E nada mais se levantou - só eu.
|
Sobre ela sobre o rio,
sei apenas o porquê
dos pássaros lhe acompanharem o voo.
Belos nos poemas,
como se nada mais belo
houvesse,
cobrem-na de penas
amarelas, verdes, azuis e cor-de-laranja.
Oh, como eu adoro as suas cores!
Mas eu sei...
Eu bem sei que o fazem
não por mim,
mas porque também ela
gosta de brincar com àguarelas.
E mais nada sei.
|
Por vezes ainda me apanho a trocar segredos
E a esperar que algo aconteça.
Merda de silhouetas a ecoarem-me nos olhos!
Podiam ter sido apenas horas...
Putas de intimidades do acaso!
Merda! Merda! Merda!
Podias ter sido insuficiente para deixar sombra.
Larga-me!
(Sim, eu lamento tudo o que eu cuspi).
|
Conheci uma esteticista
Conheci uma esteticista:
sombra azul sobre os olhos,
ligeiramente rosada na face,
da base homogénea,
envergonhada pelo blush
do primeiro dia.
Conheci uma esteticista
que não me disse olá.
Eu passava pela avenida,
olhava as montras,
de jornal dobrado
e segurado,
pela mão direita,
encaixado,
entre o antebraço
e o tronco.
Não a vi surgir
fixada junto à loja,
ansiosa ansiosa ansiosa,
por
se
acalmar.
Derrubei-lhe a mala,
desculpei-me
e ela zangou-se,
ansiosa ansiosa ansiosa.
Eu,
pedi-lhe
calma.
Conheci uma esteticista
que me sorriu.
Logo que apanhei a mala,
ela encontrou a calma,
e sorriu-me.
"Marta...", disse-me,
"sou a Marta".
"Tiago...".
"É o meu primeiro dia.
Estava a ganhar coragem".
Conheci uma esteticista
que me pintou.
Rosou-me a face,
tal e qual,
a dela.
E limou-me as unhas,
roídas por hábitos,
agora mudados
por uma esteticista
que conheci.
|
Hoje como ontem e como amanhã
Deixa-me onde estou
para que nada mude
e eu me contente
com a cura seguinte
que promete ser a última.
Mas que nunca chega
porque as horas de hoje
apenas disfarçam o amanhã
de conceito real
como se algo mudasse
com a passagem de tempo.
|
Cubo
Escrevemos o que dizemos.
Assentamos o que pensamos.
E cruzamos os olhares que,
Uma vez trocados,
Se voltam para a forma das sombras nas paredes.
E como parecem travá-las de se fechar sobre nós.
Os nossos gritos não transpiram palavras
Porque nada parece nos impedir de sair,
Como se tudo corresse para um fim único,
Inevitável.
Adiável,
Apenas porque as sombras assim o entendem.
Música
Logh - Destinymanifesto
Owen - She's a Thief
archive index
home
design by maystar
powered by blogger
